Em vigor há mais de dez dias, a Lei Cidade Limpa muda lentamente o visual do Centro de Ribeirão Preto. Em um primeiro momento, a “faxina urbana”, que obriga a retirada de grandes placas das fachadas, revelam problemas de estrutura, sujeira, improviso e descaso, mas também traços arquitetônicos que contam um pouco sobre a Ribeirão de outras épocas.
Para a arquiteta Paula Cecchi, tudo isso é o começo de um processo irreversível e necessário. “Hoje é possível perceber que não havia qualquer preocupação com a arquitetura dos estabelecimentos. Arquitetura é algo que tem que ser funcional e não simples ‘fachadismo’”, opina.
Paula acompanhou a equipe de reportagem pelas principais ruas de região central para avaliar os primeiros efeitos da lei. Durante a caminhada, fez algumas observações em imóveis que lhe chamaram a atenção. Um deles, o antigo prédio branco na esquinas das ruas General Osório e Tibiriçá, que abriga lojas e um bar no térreo e quartos residenciais no primeiro andar.
“O prédio em si é maravilhoso, mas precisa passar por uma revitalização. Tinha que ser destacado como um todo com a padronização de cores das lojinhas e do bar”, propõe. Para a arquiteta, a fiação que passa bem em frente à fachada também deveria ser retirada. “A poluição visual não é causada apenas pelos painéis, mas também pelos fios elétricos”, comenta.
Debate
A arquiteta Paula Cecchi argumenta que, apesar de alguns excessos em alguns dos itens da nova lei, o Cidade Limpa tem a grande vantagem de colocar em pauta assuntos pouco discutidos por grande parte da população. Ou seja, a beleza arquitetônica de uma cidade. “No Brasil, arquitetura é considerada algo supérfluo, caro e que só interessa a quem tem dinheiro”, diz.
Paula ressalta que um município com seu imobiliário bem cuidado influencia até mesmo o bem-estar das pessoas. “É um ganho imenso porque, além do conforto visual, melhora até o trânsito da região central. Arquitetura e comportamento têm tudo a ver”, explica.
Calçadas merecem atenção, diz profissional
O projeto de revitalização do Centro, que caminha lado a lado com o Cidade Limpa, tem como objetivo a implantação de fiação subterrânea em algumas áreas. “É o que estão prometendo”, afirma Paula, com alguma desconfiança.
Durante a “tour” pela rua General Osório, em direção à Saldanha Marinho, a arquiteta aponta outro velho problema bem embaixo dos nossos pés: as calçadas. “O passeio é todo irregular e sem acesso as pessoas com necessidades especiais. Isso tem que mudar”, afirma.
Na região da Baixada, notadamente na rua José Bonifácio, vários prédios comerciais perderam as placas e banners publicitários e ganharam um colorido especial com a pintura bancada pela Prefeitura.
Apesar do aspecto geral das fachadas estar melhor do que as dos prédios do calçadão, Paula faz algumas ressalvas. A começar pelas cores das lojas. “Não faria tudo colorido, mas optaria por uma cor padronizada. Os tons beges ou pastel, por exemplo, são melhores, porque são os que menos interferem na arquitetura”, informa.
Mas ela diz entender o motivo desse processo que transforma a Baixada numa espécie de “Pelourinho” caipira. “Sem as placas imensas com os nomes das lojas, acredito que o comerciante quis se destacar de uma outra forma. Ou seja, pela cor”, analisa.
Foto: Weber Sian / A Cidade
Texto: Régis Martins
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